Agora
inicio esta noite com uma história que venho escrevendo a alguns dias. Que por
alguma razão, da qual me faz sentir viva, escrevo estas linhas como uma
mensagem não só minha, mas de muitos que vivem sob esta terra.
Poderia antecipar com uma sinopse, mas acaso eu poderia? ... ainda não, ainda descubro.
Poderia antecipar com uma sinopse, mas acaso eu poderia? ... ainda não, ainda descubro.
Deixo-lhes com amor, o primeiro capítulo da história:
"Andamos buscando um novo dia".
Primeiro Capítulo...
Tudo começa num ponto... um dia essa era a frase mais
difundida, do pintor Kandinsky. E convenhamos, há razão.
Para muitos o princípio de um desenho, assim como um caminho
tem como partida a primeira gota de tinta de um pincel, de uma caneta - no caso
do caminho estes são os passos, o primeiro deles; um após o outro e a escolha
está feita. - Não definitivamente, mas moldando-se.
Nesse processo de desenvolvimento, tão longo... frágil e forte, tudo foi se transformando - alguns para o bem, outros para o mal.
Numa continuidade de linhas que hoje, estamos aqui, ainda
nascidos em anos dos quais antecedem outros que virão e dos mesmos que um dia
passou por esta terra, pisando o mesmo chão, olhando para o mesmo céu - Agora algo mudou... foram
as cores? as pessoas? foram os cimentos,
os rostos?
Entre as diversas linguagens...estão o silêncio, a voz.
Palavra esta que conta, que nos aproxima. Que também separa. - Tudo depende de
como é visto, de como é utilizado.
Nossa incompreensão é acordar querendo que fosse diferente tudo que faz mal, esperamos por um mundo melhor. Sabendo que ao mesmo tempo temos que lutar dia-a-dia contra o que não concordamos, fazendo parte dele.
Os pensamentos que impulsiona, a atitude põe esperança e transforma - plantando, cultivando e colhendo.
Numa canção se esclarece, dá ritmo, sentido - A vida tem uma melodia de fundo, ás vezes a ouvimos tênue, outras alegram e outras deixam perguntas.
Deixemos o doce sentido da música que nos acompanha suavemente seguir-nos, por estas linhas...
Contaram um dia...muito perto do coração que um dia as pessoas pararam para ouvi-la:
A melodia passageira. Desde então tudo foi diferente - as
pessoas se olharam, não tiveram mais medo, ordens, regras.
Se desfez padrões criados antes de existirmos...
Não é um sonho; é buscar um novo dia...
" O que dura muito tempo, torna-se suficiente.
O que dura tão pouco tempo... traz saudade
- O bem seria quanto tempo? se há data ou limite, por favor,
nos diga então. Quem sabe assim perceberemos que se amamos, amamos sempre todo
dia - Na noite; no amanhecer."
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1960, 19 de março - São Sebastião, Brasil ás 22 hrs.
1960, 19 de março - São Sebastião, Brasil ás 22 hrs.
-Boa noite companheiros! Estamos juntos novamente, é com
alegria que começamos mais um Espaço Comunicação. A noite está tranquila,
a lua nos acompanha e as pessoas voltam
para suas casas...
Lerei um trecho do verso: Poesia de nosso poeta:
"Quem fez a gruta - escura, o pirilampo cria!
Quem fez a noite - azul, inventa a estrela clara!
Na fronte do oceano - acende uma ardentia!
Com o floco do Santelmo - a tempestade aclara!
Mas ai! Que a treva interna-
a dúvida constante -
-Deixaste assoberbar-me em funda escuridão!...
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E uma voz respondeu nas sombras triunfante:
"Acende, ó viajor! a fé no coração!..."
Curralinho, 5 de junho
de 1870
Castro Alves - Pelas
sombras
Quando um poema preenche uma pergunta... deixa-nos outras
novas...- Para que seja assim; sempre renasça novos questionamentos.
E com uma música encerro o programa de hoje. Uma noite linda
á todos, meu abraço sincero e minha fé no futuro, em ti!
Obrigada
De Marisol Castanhares - Espaço Comunicação
...
Saindo de sua sala na livraria despediu-se do tio, se
chamava Carlos. É um homem de caráter forte, plenamente decidido.
Responsabilizou-se pela criação de Marisol desde que sua mãe se foi.
Com seu vestido azul, cabelos presos e olhar ao chão,
passava pensativa pela longa avenida, levava nos braços alguns livros e cadernos.
Marisol era uma garota solitária, extremamente sonhadora,
mas sempre escondia algo por trás de seu olhar, ares de tristeza. Por mais que
dissimulasse, por mais que fizesse mil coisas havia nela um espaço vazio que
nunca soube entender. Tinha apenas 16 anos e uma vida inteira pela frente.
Tinha a sensação de ser mais um na multidão, mas acreditava
na multidão. O rádio havia se tornado seu amigo, o espaço onde poderia dizer.
Fazia frio aquela noite... a lua iluminava ainda a pequena
cidade de São Sebastião, e a rua vazia ficava...
Com os braços encolhidos ela começava andar mais depressa.
Quando avistou no chão perto da calçada, um pequeno cordão de pulseira
artesanal. - Parecia uma lembrança, algo que se guarda com muito carinho. Uma
flor branca de tulipa ganhava destaque na pulseira.
De repente se aproximava um rapaz, seu olhar só seguia a luz
pequena branca da delicada flor ao chão...
Os dois estenderam as mãos para pegá-lo, sem perceber um ao
outro. Quando perceberam houve afastamento. Marisol o olhava perdida, havia
recuado um passo atrás com a pulseira em mãos. - Não sentia medo.
O rapaz ficou tão surpreso a
olhou e saiu correndo pela noite, já não se podia vê-lo.
Seus olhos grandes, escuros igual a escuridão da noite
tremiam... Ele era alto, tinha o cabelo enrolado, quase na nuca. Levava em seu
obro a sacola azul que lhe chegara até os pés.
A menina então guardou-lhe entre seus cadernos procurando ao
acaso, encontrar-lo.
Chegando a casa deitou-se por um tempo, contemplando a vista
de estrelas na fecha de sua janela.
O vento soprava suavemente... seu tio ainda não regressara.
Pôs então a escrever:
"- Querido Diário, amigo
13 de março de 1960-
Pela noite...
Estou
aqui novamente, com minhas antigas histórias... escrevendo como se fosse a
primeira delas.
Hoje fui a livraria
como diariamente faço, apresentei o programa de rádio também, como já
sabe, e encontrei um rapaz muito
simples, vestia blusa branca com manchas do dia, calça larga preta. No ombro
uma sacola azul... O rosto estava abatido, cansado, era magro, deveria ter 19
ou 20 anos. O encontrei ao sair da livraria como de costume, e por surpresa
estava eu olhando uma pulseira ao chão, não sei o porquê mas ela havia me
chamado a atenção. Por coincidência a ele também. Demorou para percebemos.
Não tive tempo para perguntar-lhe seu nome, nem se era dele
a pulseira...saiu correndo...
O que me intrigou foi seu semblante; - como se
escondesse...não sei, era triste seu olhar. E assustado ele se foi. Sem
pronunciar uma palavra.
Bem, o dia foi normal. Talvez esta flor ainda me mostre um
caminho...
Boa noite meu amigo, até breve!"
No dia seguinte o céu nublado avisa um novo dia...
As portas se abriam e as lojas esperaram seus clientes.
A cidade movia-se ao passo de uma canção
- A livraria de Carlos estava sendo cuidada pela jovem.
Ao entrar podíamos ver-la, entre a multidão de livros
organizando um a um, tirando poeiras indesejáveis.
-Muito bom dia senhorita, saberia me dizer aonde está o
livro que fala do Império Austro-Húngaro?
-Deve dizer deste, não é?
-Exatamente! Como sabia?
- É o único que temos sobre o Império Austro- Húngaro. Há
tempos que ninguém procura este assunto. 2 Exemplares apenas nos resta , levará senhor?
-Com toda certeza, os dois por favor. Precisarei para dar
aulas.
-Ah sim, é professor de História, certo?
-Certo menina! Raimundo, professor de história e
especialista em estudos da antropologia. Tome este é meu cartão, um dia
precisará de minha ajuda.
-Obrigada! Como pode ter certeza?
-Não tenho certeza. Ninguém tem. Só sei o que sei; as
pessoas sempre vão precisar uma das outras.
Os
livros eram realmente muito antigos, mas continham informações valiosas. Quem o
lesse atentamente descobriria muitas coisas sobre o Império- Austro-Húngaro. Falou-se da Imperatriz Sisi e
a vida solitária que viveu no meio de tudo isto.
Chegara a noite novamente, e seu eterno mistério...
-Mais uma noite junto a vocês! Bem vindos novamente ao nosso
espaço.
Como estão todos? Espero que muito bem.
Vejamos este poema que lhes contarei, ouça-o suavemente como
se estivesse sentado a beira da praia, olhando para intermináveis estrelas ao
céu...
"Equitação
-Mas o amor precisa da liberdade,
pode ir, pode vir.
Um castelo seria uma aliança
Se fosse o amor, primeiramente andança..."
Elisabeth
Fez-se silêncio... logo retornou sua voz.
-Deixo-lhes ao som de Johann Strauss
Muito obrigada pela companhia! Até a próxima.
Ao sair da loja, já tudo guardado e fechado, decidiu-se antes de ir para casa ir a uma lanchonete ali perto.
Seu passo era lento e seu olhar triste.
Deixou suas coisas no guarda pertences e pediu um café com
torradas de geléia.
Estava vazia, praticamente havia ela, a Sra. que atendia
Dona Cláudia e agora... um gatinho que veio lhe pedir um pouco de geléia.
-Vamos, deixe-me; não posso lhe dar geléia, fará mal a sua
saúde, deves comer ração.
Passou-lhe a cabecinha em suas mãos e foi para a porta onde
deitou-se.
-Obrigada Sra. Cláudia. Até breve. Deixo-lhe aqui na mesa?
-Oh sim, eu arrumarei. Até breve minha jovem.
Na saída encontrou o rapaz do dia anterior, guardando as
latas de refrigerantes vazias na sacola azul. As tirava em frente a lanchonete,
onde algumas pessoas costumavam deixar...
-Boa noite, perdoe-me. Como se chama? perguntou surpresa.
Silêncio...
O rapaz a olhou por dois segundos e sem dizer uma palavra
pegou a bolsa e partiu. Sumindo no escuro da noite.
-Já não sei por quê
foge, parece ter medo...
Depois que chegou em casa, já sem forças, deixou render-se
num sono interminável.
Seu tio tentara acordá-la para ir trabalhar, o dia amanhecia,
mas acabou por deixá-la descansar.
Só notou que era um novo dia quando no relógio marcou-se 13
hora em ponto.
Correu para a livraria.